Atelier e Pesquisa em Artes Visuais Janice Martins Sitya Appel, artista visual, multimídia, desenvolvendo sua pesquisa em vídeo e processos artísticos contemporâneos em Florianópolis/SC desde fevereiro de 2008. O Blog !#j-a-n-i-s-@-r-t-e#! visa a atualização constante sobre esta pesquisa e seus apontamentos e delírios estéticos. O convívio e as relações de afeto norteam a busca por emoções e possibilidades artísticas.
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Casa Comum
domingo, 8 de janeiro de 2012
"Janice Martins… lááá do Sul direto para o TR!"
Janice Martins… lááá do Sul direto para o TR!
Vídeo começa pra mim no sistema das artes visuais como um upgrade da TV (ha, ha, ha, isso mesmo!) e possibilidade de interação entre obra e público, isso em 1998… sou muito flexível, trabalho com dinamismo e não costumo fechar meu trabalho em uma possibilidade só. Fui então, pegando gosto pelas possibilidades do vídeo e usando como linguagem e ferramenta para minhas outras áreas de atuação (Janice atua intensamente em diversos trabalhos sociais)… A exigência do vídeo sempre foi minha, pois meu foco é com certeza o desenvolvimento da minha carreira artística, e com o vídeo eu me sentia presa a este foco mesmo estando em outros lugares ou trabalhando. As coisas estão sempre mudando, renovando, mas é preciso ter crítica. Sou sim o fruto da criatividade que me abrange, mas não sobrevivo sem as trocas com o mundo, sem a comunicação com o meio e as respostas e estímulos que me propõem. Isso justifica minha inserção no sistema, não hesito em participar de festivais, seleções, exposições, movimentos, universidade, circuito. Meus dois últimos anos foram marcados por uma liberdade de expressão e de atuação no vídeo documentário. Mas note bem, não sou jornalista, não faço reportagens, sou uma artista plástica e entendo o documentário como uma visão poética do olhar sobre a realidade. Entendo que esta poética encontra-se na sutileza de certos momentos que são reais que poderiam ser um fantasia. Cenas do real que podem ser perpetuadas, o vídeo faz isso e a câmera tenta ver o que meu olho pensa em enxergar. Vem daí os trabalhos Fale com Ela, Expresso do Rock, Compositor e a minha participação no projeto Essa Poa é Boa, que recebeu o Prêmio Açorianos 2008. Nesta proposta, como artista do grupo Navegantes, realizo o documentário como obra. Posso ? Sim, eu posso. Documentei toda montagem, a mostra e a desmontagem. O documentário será lançado na abertura da segunda edição do Essa Poa é Boa em 2009.
Oscilo entre a academia e o circuito underground. Componho minha personalidade e minha atuação na articulação dos mundos em que vivo. Atualmente estudo no CEART da UDESC/SC, no curso de Mestrado em Processos Criativos em Artes Visuais e faço uma única disciplina, Artes imersivas: interfaces e implicaçõesestéticas e políticas com a professora Dra.Yara Guasque, que esteve presente no primeiro dia do TR em Florianópolis. Eu vim de Porto Alegre, onde fiz bacharelado em Artes Plásticas pela UFRGS, fui bolsista em diferentes projetos, nunca me desvinculei da Universidade, o que me deu a retórica quanto aos conceitos em arte, mas nunca abri mão de projetar meu trabalho na rua, no pátio da minha casa, de viver a experiência que me invade independente de qualquer redoma institucional em que eu me encontre. Sou sempre artista em todos os lugares.
Meu trabalho me leva para exploração do espaço. Espaço ? Sim, eu já atravessei uma década e o espaço para mim foi da galeria para a rua, do real ao virtual. As paredes já foram um lugar e agora, um http é um espaço para mim. O vídeo é minha forma de poder entrar neste complexo tecnológico, que começa e termina pela experiência ou o devir artístico e que circula pelos meios invasivos e expansivos da rede. Coloquei no material que enviei ao TR: ” Pretendo, porém, esboçar novaspossibilidades de uso do vídeo e da projeção como possibilidades de acrescentarnovas tecnologias ao desenvolvimentodo meu trabalho, em meu olhar e no pensar de possibilidades estéticas, junto ao aperfeiçoamento técnico. Que eu possa expandir a imagem para outros suportes e formas de olhar, assim como percepções mais imersivas etecnológicas.” Então, quero avançar em meu trabalho e dar seguimento a esta trajetória. Na minha equação encontro os fatores: vídeo, corpo, cotidiano. Posso te dizer que o cotidiano é tudo aquilo que fala da sociedade em que vivemos, seja pelo ponto de vista singular á cada um e isto acontece quando foco uma cena de um ser, um indivíduo e mesmo assim, as pessoas se vêem nele. Posso ainda falar dessa sociedade em que vivemos sem panfletear nada, apenas vivendo e dialogando com este meio em que vivo. Quando acoplo a câmera em meu corpo e saio pelas ruas, ou quando filmo meu dia-a-dia em casa, estou abrindo um canal de comunicação e de deleite com o universo que me cerca. Haveria aí algo do Romantismo em que o artista contempla a natureza e o meio em que vive e sente que sua permanência é decidida pelo poder de apontar o belo, naquilo que mais tarde culminará no conceito de estética. Sob um ponto de vista pós modernista, sou fruto de uma mistura entre artistas que pesquisam e desenvolvem a arte pós Duchamp: vídeo + performance + site especific, já que coisas, lugares e espaços são a obra do artista.Para fugir de qualquer classificação, posso te dizer o que escrevi no material sobre um dos meus projetos atuais: “Para dar continuidade a este projeto de pesquisa em vídeo, penso enquanto desenvolvo a proposta para Florianópolis.
Tenho desenvolvido o que chamo de vídeo deslocamento, que consiste em captar os lugares por ando percorro na cidade e marcá-lo no mapa.Estou pesquisando a articulação entre corpo, vídeo e espaço como cotidiano. Este é um trabalho de pesquisa independente. Percorro as ruas de Florianópolis e documento tudo que vejo, os espaços por onde circulo, estendo eles ás pessoas, voltando ao lugar e remetendo-as ao endereço virtual daquele espaço. A imagem nunca acaba, ela sempre retorna. Ela é ela.Posso te falar ainda de um outro projeto que estou realizando e que convidei o artista Pedro Teixeira, também aluno do mestrado na UDESC. Neste trabalho, farei uma abordagem em web arte, trabalhando em tempo real. Sobre este trabalho posso te transmitir o que escrevi:”Janice e Pedro reúnem suas pesquisas no campo dos processos criativos e resolvem criar o projeto Tatoonline. A proposta vem da união entre a linguagem do vídeo e da tatuagem e que culminouem uma necessidade de usar a rede como suporte de registro e de diálogo entre estes dois artistas e seus processos. Os artistas vão abrir em rede a transmissão da execução de uma tatuagem, que envolve a exposição e execução do corpo e suas possibilidades de grafismo, associados à possibilidade da transmissão da cena em tempo real. A intenção vai além da documentação do real e do corpo e aborda a discussão e o conceito de permanência em web arte. Assim como a noção de tempo que aborda a performance, em que a mesma vem de um histórico que nos remete também ao happening, a tatuagem é ainda um evento em si, mas seu vestígio é para sempre .A articulação entre o tempo real e o tempo que nos revela a permanência doinstante está presente nesta discussão. A web acaba por abrir esta discussão atodos aqueles que sentirem-se convidados pelas possibilidades de participarem deste momento, de serem os espectadores reais desta interferência de Pedro napele de Janice. A multiplicação deste instante através do registro aberto e simultâneo,a não permanência do momento, movido por uma ação dos corpos que não volta atrásestarão inseridos sob quais paradigmas da web arte ?
Acredito que a arte no Sul do país ainda busca a verdadeira identidade e espaços de circuitos de arte e cultura com QUALIDADE , pois como estar situado tendo e vista uma constante europeização e norte americanização do conceito em arte? Sou da opinião de que o artista nunca se acorrentou a isso. Percebo que estas influências foram necessárias para que os artistas pudessem dialogar com o mundo, sem fechar-se ao domínio cultural, pois a necessidade da arte é sempre maior e independente das amarras políticas em que possam estar inseridas. Existem, mas há sempre a luz (da arte) no fim do túnel. Os artistas sempre subvertem á ordem, ou por instinto,negação e adequação (ha, ha, ha!). Não importa, o fato é ainda lutamos por um reconhecimento da arte latinoamericana e seu diálogo justo com o resto dos pólos e centros culturais em termos de qualidade e investimento . Acredito que isto acontece, ou desponta para acontecer quando me deparo com iniciativas como a Bienal do Mercosul, Itaú Cultural, o Prêmio Sérgio Motta, FILE, entre outras iniciativas nacionais que captam artistas e novas tendências. Bem na verdade, acho que os artistas caminham em direção uns aos outros, o que acho bom, pois o planeta tem ficado cada vez mais possível com iniciativas de aproximação. Experiência com a da coordenação de montagem na Bienal do Mercosul 2001 e 2003 me deu a possibilidade de entrar em contato com diferentes artistas, curadores, e o panorama da arte latioamericana, o que me aproximou da diversidade e da permanência de valores muito distintos em cada linguagem.
Sobre os Territórios Recombinantes, te digo que esta mobilidade do projeto me atrai. Me remete sempre á afirmação adaptada de que ” o artista vai aonde o povo está”. É muito bom perceber o Prêmio Sérgio Motta e todas suas nuances de deslocamentos e abrangências, como podemos ver nos diferentes projetos do Prêmio. Encontro nas iniciativas do Prêmio Sérgio Motta a possibilidade de ver contemplados os mais diferentes trabalhos de todos artistas contemporâneos a mim, todos latioamericanos.Sinto -me conectada ao mundo ao perceber os ecos de minha obra na de outros artistas e vice e versa, em nosso dia-a-dia e nas dicas que Dani, Duval e Tiago nos deram. Na prática pude perceber que, embora tenha entendido do TR “mudanças de paradigmas na apresentação do projeto”, de ser um “bate papo informal”, desde a forma de montagem do espaço para os TR, algo me soou contrário a tudo isso, quando vi as possibilidades do encontro poder remeter a uma grande “banca de graduação”, onde todos são avaliados, ouvidos exaustivamente pela “banca”, pois é o risco que podemos correr em iniciativas em que o saber pode ser medido ou mensurado. Em nenhum momento quero estabelecer aqui uma crítica negativa, pois realmente acho que o TR funciona, mas é preciso estar preparado e acho que todos os selecionados estavam. O espaço do TR possibilita que artistas se cruzem, vejam um o trabalho do outro, possam acrescentar novos valores ao seu discurso, especular novas possibilidades e até mesmo fechar incoerências. Não acredito que uma instuição possa dar ao artista aquilo que ele não queira pois a autonomia da ação em arte é com certeza uma natureza, sobretudo natural, animal, indomável. Acredito que é o interesse que move o artista adiante, que o território é instável, modificável, inconstante, evolutivo, situacionista (como a Internacional Situacionista, hi, hi, hi !). Gosto de embarcar nesta nau, percorrer este terrítório e recombinar-me sempre.
Acho que as experiências que tive me deram condições de diálogo em arte, o conhecimento de espaços, estruturas burocráticas, populações e comunidades, artistas, curadores e toda gama que compõem nosso sistema de artes visuais, cultural e social neste aspecto. O vídeo é meu trampolim, de onde vou partir para diferentes saltos.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
sábado, 11 de dezembro de 2010
Hoje eu acordei pensando que o que me mobiliza é o fato de usar o espaço público para fazer hortas. Talvez por um certo sentido de transgressão ou talvez de uma vontade política de dizer alguma coisa. Essa coisa que quero dizer pode ser algo simples, desde que faça sentido para alguém que está ao meu lado, e esse alguém, ao lado de outro alguém. Colocar a horta do lado de fora de casa é desarticular uma fronteira entre o público e o privado. Uma fronteira que eu nem sei bem se existe, mas que define o desenho do mundo urbano em que vivemos. Pode ser também, que a horta articule territórios em desuso toda vez que ali nasce alguma coisa para comer, cheirar, tomar. Essa é a diferença da horta-aberta, ela não é ninguém e é de todo mundo, assim como os espaços que o homem, ora conquista, ora é conquistado. Quem cuida de uma horta em espaço público ? Foi tentando responder a esta pergunta que resgatei a dimensão territorial daqueles que vivem sem teto e que usam este espaço dito público como seu de fato. Só é público para nós por que voltamos pra casa e temos um lugar privado. para os que vivem na rua, o espaço é sempre deles. Nas diferentes arestas que espaço e lugar propõem, espaço é meio de criação e lugar é para onde se vai. Neste espaço é que quero atuar, e nele não há mapas, mas há algo chamado cartografia sentimental que vai mexer com as pessoas deste espaço. Não crio mapas, crio vínculos. A horta é um dispositivo que nos faz encontrar nesta zona de fronteira entre o público e o privado, um lugar de desejo comum, o desejo de arte e de vida.