domingo, 21 de fevereiro de 2010

Deslocamentos Reflexivos

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CLAUDIA WASHINGTON & LUCIO

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sábado, 20 de fevereiro de 2010

REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO DE UMA HORTA COMUNITÁRIA MEDICINAL COMO PROJETO DE ARTE COLETIVA

REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO DE UMA HORTA
COMUNITÁRIA MEDICINAL COMO PROJETO DE ARTE
COLETIVA

Janice Martins PPGAV /CEART/UDESC1

Resumo:
Este artigo tem por objetivo apresentar reflexões sobre a proposta de
desenvolvimento de uma horta medicinal comunitária como projeto de arte coletiva
desenvolvido na comunidade da Barra da Lagoa. As reflexões são apresentadas a partir
do entendimento de que as vivências e experiências surgidas no convívio direto com a
comunidade para um projeto em arte provoquem situações de deslocamento dos saberes
e descontinuidade nas ações, onde novas subjetividades acabam sendo geradas.

Palavras chave: deslocamento, comunidade, subjetividades, projeto de arte
coletiva

Abstract:
This article has the objective to present reflections about a proposal of
development of a communitary medicinal garden as a collective art project that has been
developted at the community of Barra da Lagoa. The reflections are presented by the
understanding that the existence and experiences arised from a direct coexistence with
the community for an art project induce situations of displacement of knowledge and a
break in the continuity of the actions, where new subjectivities can be generate.
Keywords - displacement, community, subjectivities, collective art project.

REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO DE UMA HORTA
COMUNITÁRIA MEDICINAL COMO PROJETO DE ARTE
COLETIVA

“Os movimentos sociais são tua matéria prima: você faz política como quem “faz
arte” (tanto no sentido de criar, como no de brincar – aliás, indissociáveis).
Outra imagem que me vem é que o exercício da micropolítica é uma espécie
de “bruxaria” com as forças do inconsciente no campo social... ”2

1 Mestranda PPGAV/CEART/UDESC, Bacharel em Artes Plásticas (UFRGS)
2 GUATTARI, Felix e ROLNIK, Suely. Micropolítica - Cartografias do desejo. 1986 (p. 314)

Movida pelo interesse em participar de encontros e de relações de convívio
com a comunidade da Barra da Lagoa (região leste de Florianópolis) na
retroalimentação da cultura local como na situação da horta de temperos, ervas
medicinais e de outras plantas, a horta medicinal comunitária surge como projeto
de arte coletiva - processo coletivo ou colaborativo e de produção do real,
simbólico e imaginário coletivo que reforça o reconhecimento da cura através das
plantas e do cultivo da horta como cultura local. O convívio estabelecido pelo
cotidiano das ações na horta medicinal comunitária promove um projeto de arte
coletiva formado através das relações de vínculo e de colaboração na
comunidade. Neste sentido, exemplos como as experiências do coletivo
dinamarquês Superflex que desenvolveu um projeto de arte coletiva chamado
Supergas3 (1996-97) a partir da realidade de uma comunidade específica em
Camboja (África) e na Tailândia (Ásia). Sua preocupação com a preservação do
meio ambiente na produção de biogás e biocombustível, levou ao projeto coletivo
em arte, como uma forma de convívio e direcionamento às necessidades e
recursos econômicos que acreditamos existir em economias de pequena escala.
As valorizações do encontro e do convívio atuam como dispositivos e como
forma para entendimento de um projeto em arte contemporânea, assim como a
explanação de alguns conceitos lançados pelos autores Nicolas Bourriaud,
Reinaldo Laddaga e Suely Rolnik sobre projetos coletivos em arte desenvolvidos
em comunidades específicas.
A arte do encontro ou o encontro na arte: vivências na comunidade da
Barra.
A partir da década de 90, o entendimento que abrange o contexto da arte,
aponta para um campo em constante expansão, zona de limites não claros e
ampliados (atravessamento ou ausência de limites) e que fazem da arte um
campo em trânsito junto a diferentes campos de atuação da vida cotidiana. Este
cotidiano é marcado pelo próprio cenário atual político, econômico e artístico,
onde se mostra imprescindível o entendimento da transversalidade da arte. Não
apenas por contextualizar o momento histórico vivido nos dias de hoje por grupos
artísticos ou por integrantes de uma comunidade, mas também para

3 SUPERFLEX (Dinamarca) WWW.superflex.org – “Supergas” (Camboja, 1996-97)

compreensão da problemática urbana de uma cidade turística como Florianópolis
e que preserva espaços comunitários de expressão culturais nativas e ligados à
terra que possam ser espaços de produção de um projeto coletivo em arte. O
projeto de arte coletiva na Barra da Lagoa, parte do espaço de convívio com a
comunidade e da mobilização de diferentes elementos da comunidade para
realização do projeto. O espaço do convívio é alicerce para um projeto de arte
coletiva que convive com a constante restauração do sistema – movimentos de
resistência - e que geram novas possibilidades dentro da micropolítica
comunitária e nos sistemas econômicos locais, assim como com a preservação
da cultura local e atuação em um campo não específico que faz gerar a arte.
Para Reinaldo Laddaga4, é a partir dos anos 90 que artistas, escritores e
músicos começavam a desenhar e executar projetos que supunham uma
mobilização de estratégias complexas. Estes projetos implicavam na
implementação de formas de colaboração que permitiram a associação entre
artistas e comunidades durante tempos prolongados (alguns meses no mínimo ou
alguns anos em geral) atingindo grandes números (dezenas, centenas) de
indivíduos de diferentes procedências, lugares, idades, classes, disciplinas.
Pensar uma horta medicinal comunitária como dispositivo dentro de uma
realidade ou projeto artístico pode gerar certo desconforto inicial se não
conseguirmos estabelecer uma relação imediata entre a horta medicinal
comunitária e sua produção com projeto coletivo em arte. Neste sentido, o
entendimento da horta medicinal comunitária como projeto artístico deve ser
pensado a partir da noção de uma arte relacional complexa, da valorização do
encontro como gerador de convívio e produtor de novas subjetividades,
deslocamentos e de possibilidades de um projeto em arte que possa ser coletivo
e colaborativo. O cultivo da horta medicinal remonta saberes como os de arar,
semear, regar, colher, armazenar e distribuir, assim como os saberes específicos
de aplicabilidade das plantas para processos de cura. A transmissão de saberes
não se perde com o tempo, pois são movidos pela noção de desprendimento com
sua autoria, usada ancestralmente por diversas outras culturas, que em âmbito
local cuidam da cura em suas comunidades e são transmitidos de gerações em
gerações.

4 LADDAGA, Reinaldo; Estética de la emergência , 2006 (p.15)
,
Suely Rolnik nos aponta a definição de dispositivo descrita por Deleuze
como “uma meada, um conjunto multilinear, composto de linhas de diferentes
naturezas... Destrinchar as linhas de um dispositivo, em cada caso, é traçar um
mapa, cartografar, agrimensar terras desconhecidas, e é o que Foucault chama
de ‘trabalho de campo [...] uma produção de subjetividade num dispositivo: ela
deve se fazer desde que o dispositivo o permita ou o torne possível. [...] não é
nem um saber nem um poder. É um processo de individuação que incide sobre
grupos ou pessoas, e se subtrai das relações de forças estabelecidas como dos
saberes constituídos: uma espécie de mais-valia.” 5 Sendo assim, é possível
compreender a horta medicinal comunitária como um dispositivo relacional no que
diz respeito ao cultivo da horta como processo de investigação em arte que
envolve a participação do outro convocando sua experiência de convívio como
condição para a realização do projeto coletivo em arte.
Conforme Bourriaud “a prática do artista, seu comportamento enquanto
produtor determina a relação que será estabelecida com sua obra: em outros
termos, o que ele produz, em primeiro lugar, são relações entre as pessoas e o
mundo por intermédio dos objetos estéticos” 6·, sendo assim, o fazer da horta
medicinal comunitária como projeto artístico promoverá um encontro crítico entre
arte e realidade através da relação de convívio entre os usuários envolvidos no
projeto.
Da mesma forma, para Laddaga, ao falar de projetos colaborativos, afirma
que “lo que se proponem los artistas que inician estos proyetos es, sobre todo,
desarollar, calibrar, intensificar la coperación misma, no tanto con el objeto de
materializar un objetivo particular com el de variar e intensificar la cooperacion
social en un determinado entorno”.7
A crítica se faz presente por ser o encontro, promotor das relações de
convívio, uma forma de renegociação entre a relação entre a arte e vida. É
através da participação do outro na instituição Arte ou nos termos e contexto de

5 ROLNIK, Suely. Alteridade a céu aberto - O laboratório poético-político de Maurício Dias & Walter Riedweg, 2003 (p.8)

6 BOURRIAUD, Nicolas; Estética Relacional; 2009 (pág. 59),

7 LADDAGA, Reinaldo; Estética de la emergência , 2006 (p.138)

um projeto artístico como objeto relacional que as relações entre arte e vida são
estabelecidas. Neste sentido, afirma Bourriaud: “Uma obra pode funcionar como
dispositivo relacional com certo grau de aleatoriedade, máquina de provocar e
gerar encontros casuais, individuais ou coletivos.” 8 Ou seja, através de ações
cotidianas, o artista promove o seu espaço de convivência social, assim como as
propostas relacionais em sua forma complexa ocupando espaços convencionais
da instituição Arte ou se aproximando de acontecimentos e situações inseridos
vida cotidiana.
Ao pensar a horta medicinal comunitária como uma situação da vida
cotidiana de uma comunidade e desta como projeto em arte é que a lógica do
encontro é descrita por uma arte relacional complexa. A horta medicinal
comunitária gera o encontro, uma possibilidade de atuação no real em que são
materializados novos espaços de vida e que geram a participação direta do outro,
a constante reflexão e diálogo permanente a partir do convívio. O resultado direto
deste convívio são as relações de descontinuidade onde a subjetividade dos
sujeitos envolvidos pode ser reconstruída. No contexto comunitário o projeto de
arte coletiva convive junto às relações de saber entre os usuários da horta: Seu
João da Rua A planta guaco que é bom para a tosse de Dona Benta da rua B,
que planta capim limão que é bom para as crises nervosas de Seu João A. A
troca de experiências é um espaço de troca de saberes sobre interesses comuns.
O desafio do projeto de arte coletiva é estabelecer junto ao processo propostas
audiovisuais e coleta de relatos e de imagens como ferramentas e dispositivos
utilizados durante o cultivo da horta como parte do processo coletivo e não como
elemento de documentação como mono forma.
A produção de um encontro tendo a horta medicinal comunitária como
dispositivo em um projeto de arte coletiva cria um corte momentâneo sobre o
contexto imediato e formal esperado pela instituição Arte ampliando a visão de
contexto e fazendo com que a realidade possa ser vista e vivida de outras
maneiras. É no cruzamento da arte com o dia-a-dia e as questões pertinentes a
este convívio que surge um projeto de horta medicinal comunitária como projeto
coletivo em arte. Primeiramente, o encontro provoca uma descontinuidade na
própria realidade da instituição Arte, um encontro como nova forma de
representação e que produz realidade. Inseridos como agentes e produtores

8 BOURRIAUD, Nicolas; Estética Relacional; 2009 (p.42)

desta descontinuidade, os envolvidos no encontro gerados pela horta medicinal
comunitária e seus usuários tem que agenciar novos lugares de convivência.
Desta forma, os envolvidos são deslocados de seu lugar de reconhecimento
principal e são estimulados a catalisar novos processos de subjetividade em seu
cotidiano como espaço de convívio. A horta medicinal comunitária como projeto
artístico reúne pessoas e colaborações em torno de um sistema de produção em
comum, não orientados pelo objetivo de produzir uma “obra de arte” como projeto
a partir da horta, mas sim de produzir o deslocamento deste objetivo para a
produção de descontinuidades e de subjetividades, através de um projeto coletivo
e colaborativo. Para Bourriaud, é isso que podemos chamar de lei de
deslocalização, quando “a arte exerce seu dever crítico diante da técnica somente
quando desloca seus conteúdos (…) Dessa maneira, a relação arte/técnica
mostra-se especialmente favorável a esse realismo operatório que estrutura
muitas práticas contemporâneas, e que pode ser definido como a oscilação da
obra de arte em sua função tradicional de objeto a ser contemplado.”9 A
comunidade da Barra da Lagoa é marcada por um universo de convivência entre
diversidades culturais locais marcadas dentro da mesma comunidade. O
empoderamento do universo da cura através das plantas é estabelecido pelo
convívio pacífico entre benzedeiras, rezadeiras, curandeiras, médico homeopata,
farmacêutico e cultivadores de hortas medicinais.
As relações de convívio geradas pelo cotidiano, assim como a própria arte
contemporânea como noção de convívio de rupturas e repetições, nos recolocam
e nos deslocam constantemente de um espaço previamente estabelecido na
relação de convívio, permitindo assim, através da incerteza e da tentativa a
produção de novas subjetividades e de intersubjetividades. Ao colocarmo-nos
diante de um sistema operacional promovido pelo processo do encontro e do
convívio com o outro acabamos por fazer sentido a um circuito de idéias, muito
mais do que afazeres ou tarefas propriamente ditas. O circuito promove a
alteridade de cada parte embora permaneçam intercaladas umas às outras - cada
parte não funciona sem a outra. Assim opera o senso da coletividade, em que a
alteridade de cada um não faz com que cada parte possa trabalhar sozinha, mas
sim em função do grupo, ou melhor, do outro. O processo do encontro inclui que
cada um ocupe e desocupe um lugar no circuito e que funcionará como

9 BOURRIAUD, Nicolas; Estética Relacional; 2009 (p. 94-95)

engrenagem do sistema como um todo. Um sistema oscilante e autônomo.
Oscilante no sentido de que cada um pode substituir ao outro, assim como pode
permanecer em determinado ponto do sistema e sem colocar em risco ou prejuízo
a produção do encontro como objeto. Não é possível prever quem vai estar
presente no encontro e a incerteza da relação faz a regra do grupo. As casas na
comunidade da Barra são marcadas por espaços destinados ao cultivo de espaço
“verde”, compartilhados com o espaço de saber das “tarrafas”, das “rendas de
bilro” e dos “estaleiros” que constroem os barcos para travessia local do canal que
liga a Lagoa da Conceição ao mar através da praia da Barra da Lagoa.
Quanto à alteridade, Suely Rolnik nos aponta, que “a política de relação
com a alteridade encontra-se na própria origem da colaboração entre os artistas
que se deu a partir do contágio em mão dupla (...) ambos querendo sair de si
enquanto territórios geopolíticos, existenciais, subjetivos e profissionais”.10 Desta
forma, a alteridade seria aquilo que promove um deslocamento do lugar de
reconhecimento em que todo o homem social interage e interdepende de outros
indivíduos. Assim, a existência do indivíduo só é permitida mediante um contato
com o outro (que em uma visão expandida torna-se o outro).
O encontro e as relações de convívio gerado a partir de um projeto de arte
coletiva como da horta medicinal comunitária medicinal, proporciona um espaço
em que uma nova economia é gerada. O emprego do termo economia baseia-se
naquilo que para Bourriaud é o que “caracteriza a obra de arte como produto do
trabalho humano, seu processo de fabricação e produção, sua posição no jogo
das trocas, o lugar - ou a função – que atribui ao espectador e, por fim (…) do
objeto da arte, não de sua prática; da obra tal como é tomada pela economia
geral, não de sua economia própria.” 11 Ou seja, no circuito compartilhado e
colaborativo que a horta medicinal comunitária instaura a partir das relações de
convívio, novas economias são geradas: economia de trocas reais e simbólicas
como troca de experiências, relatos ou a troca de ervas medicinais e de saberes.
Bourriaud define ainda, que a obra de arte representa um interstício social, termo
usado por Karl Marx (1818-83) para designar comunidades de troca que
escapavam ao quadro da economia capitalista que não obedeciam à lei do lucro.

10 ROLNIK, Suely; Alteridade a céu aberto O laboratório poético-político de Maurício Dias &
Walter Riedweg (p. 07)

11 BOURRIAUD, Nicolas; Estética Relacional; 2009 (pág. 58)

O interstício seria ainda um espaço de relações humanas que sugere outras
possibilidades de troca, sendo o convívio uma forma de economia. A produção de
um projeto de arte coletiva promove encontros que geram como produto uma
série de relatos de experiências que torna possível o deslocamento de um projeto
em arte para a horta medicinal comunitária como produto para o convívio e de
novas subjetividades.
O cultivo da horta medicinal comunitária pode culminar em novas
propostas, fruto deste convívio ou ainda da condição dos participantes como
produtores inseridos em seu contexto; porém, sempre surgem adversidades
quanto à finalidade dos encontros dentro de uma definição em arte ou em
comunidade como realidades distintas. A forma do encontro como objeto fica
refém da discussão quanto aos limites dos espaços de abrangência da instituição
Arte ao questionarmos tais valores. Qual a condição do encontro, do convívio
como objeto-arte e de indivíduo-artista ao os lançarmos em uma das engrenagens
da crítica do sistema de artes visuais? Qual seria a condição adquirida à horta
medicinal comunitária se o registro de seu processo da mesma fosse lançado em
uma galeria ou espaço cultural, ocupando assim um espaço tradicional no sistema
das artes visuais? A relação de convívio além de tornar possível a execução de
um processo de produção do encontro, de um projeto coletivo em arte, possibilita
a reflexão de novas possibilidades para este convívio assim como pensar
soluções em arte e seus limites na esfera pública e privada enquanto instituição
Arte. A este exemplo é possível lembrar grupos coletivos que atuam em projetos
de arte colaborativa, como os coletivos Bijari12, Superflex13 ou o trabalho de Rirkrit
Tiravanija14 em que o espaço de convívio gera projetos coletivos em arte junto á
comunidades específicas ou grupo de pessoas. Muitos projetos institucionais
desenvolvem propostas e eixos curatoriais específicos que valorizem projetos
coletivos em arte que desenvolvam projetos coletivos destes artistas em
comunidades.
A este respeito, Laddaga comenta que “un número cresciente de artistas y
escritores parecia comenzar a interesarse menos em construir obras que em

12 COLETIVO BIJARI (Brasil). WWW.bijari.org – “Sustain Yourself” (SP 2008) /sustentabilidade urbana

13 SUPERFLEX (Dinamarca) WWW.superflex.org – “Supergas” (Camboja, 1996-97)

14 Rirkrit Tiravanija (Buenos Aires/Tailândia) http://br.video.yahoo.com/watch/3654873/10062562 -

participar em La formación de ecologias culturais” 15. A definição de ecologia
cultural remete do entendimento do conceito de biorregionalismo em que se
observa um local específico em termos de seus sistemas naturais e sociais, cujas
relações dinâmicas ajudam a criar um senso de lugar, enraizado na história
natural e cultural. Deste conceito nasce o território cultural, apresentado por onde
Laddaga ao apresentar a definição de ecologia cultural - uma invenção de
mecanismos que permitem articular processos de modificação de estados de
coisas locais e de produção de ficções, fabulações e imagens, de maneira que
ambos aspectos se reforcem mutuamente. Podem ser aleatórios e
multidirecionais, trabalham na construção do outro num espaço de convívio e de
colaboração direta com diferentes campos de saber dentro destes espaços de
diferença.

Considerações Finais:
“Os objetos e as instituições, o emprego do tempo e as obras são,
ao mesmo tempo, resultado das relações urbanas –
pois concretizam o trabalho social –
e produtores de relações pois organizam modos de socialidade
e regulam os encontros humanos”16.

Como uma horta medicinal comunitária pode ser um projeto de arte
coletiva? Para Guattari, “a única finalidade aceitável das atividades humanas é a
produção de uma subjetividade que auto-enriqueça continuamente sua relação
com o mundo” 17. Sendo assim, esta definição aplica-se às práticas dos artistas
contemporâneos ao criar e colocar em cena dispositivos de existência que
incluem métodos de trabalho e modos de ser, em vez de objetos concretos que
até agora delimitavam o campo da arte.
Desta forma, o espaço de uma horta medicinal comunitária é também um
espaço de uso do subjetivo, já que faz uso de parte do cotidiano da produção do
saber, assim como faz uso de parte do cotidiano daquilo que tange o universo
íntimo das pessoas. Na combinação entre arte e vida podemos encontrar, no
espaço da horta comunitária, a possibilidade de um projeto de arte coletiva que
toma como direção a esfera das interações humanas em seu contexto social mais

15 LADDAGA, Reinado. Estética de la Emergencia. 2006. (p.29)

16 BOURRIAUD, Nicolas; Estética Relacional; 2009 (pág. 66)

17 GUATTARI In: BOURRIAUD, Nicolas; Estética Relacional; 2009 (pág. 145)

do que a afirmação de um espaço simbólico e privado. A permanente troca de
posicionamentos entre o binômio comunidade-arte culmina em intersubjetividades
que se entrecruzam em movimento aleatório e contínuo dentro do espaço da
horta comunitária.
A arte contemporânea dentro deste espaço reflexivo passa a ser uma
relação a ser experimentada, uma realidade a ser vivida. Para Bourriaud, “uma
forma de arte cujo substrato é dado pela intersubjetividade e tem como tema
central o estar juntos, o encontro entre observador e quadro, a elaboração
coletiva do sentido (…) e da arte como lugar de produção de uma socialidade
específica” 18.
O espaço da horta medicinal comunitária passa a ser então, o simultâneo
espaço da arte e do convívio como objeto no projeto coletivo em arte, onde novos
processos colaborativos adicionais tomam forma, como o mapeamento da
comunidade da Barra da Lagoa, a implantação de um sistema de trocas de
sementes e de mudas, a construção de um canal de comunicação em sistema
aberto (blogger/Linux), feira de geração de renda, oficinas para multiplicação do
saber e do fazer da horta comunitária.
Ao iniciarmos o plantio da horta medicinal comunitária como experiências
de convívio no espaço da vida acabaram por abrir novos canais de conexão com
outras estruturas existentes em nosso perímetro e campo de atuação. Sem
dúvida, o entendimento de uma estrutura rizomática é procedente em um espaço
que novas vivências são desencadeadoras de novos e múltiplos olhares, incluindo
o nosso próprio olhar sobre nós mesmos. O pressuposto da colaboração está
presente nas atividades como forma fundamental de participação de qualquer
indivíduo (e não mais o espectador) no corpo do processo em análise.
Com base no sentido de intermediação entre arte e vida foi criada uma
interface tecnológica de interação entre o registro, a memória e o real, através da
construção de um blogger, pois “o surgimento de novas técnicas, como a internet
e a multimídia, indica um desejo coletivo de criar novos espaços de convívio e de
inaugurar novos tipos de contato com o objeto cultural” 19. O blogger, neste

18 BOURRIAUD, Nicolas; Estética Relacional; 2009 (pág. 21-22)

19 BOURRIAUD, Nicolas; Estética Relacional; 2009 (pág. 36)

contexto, representa a possibilidade de ferramenta que manuseia esta realidade
decomposta em registro e memória e que pode ser acionada pelos usuários da
horta medicinal comunitária como colaboradores diretos. Ainda assim, o blogger
possibilita o lançamento do processo de plantio da horta medicinal comunitária
para a rede (internet). Todas estas colaborações reafirmam a abertura do projeto
para a participação da vida que não se encerra na horta medicinal comunitária
como projeto, mas que estende para uma proposta de convívio e de encontro
para um mundo melhor, permitindo a colaboração de outros participantesusuários.
O uso do blogger também abre para outras possibilidades além do
convívio direto, permitindo que outras formas de trocas de experiências sejam
possíveis, ampliando o contato com o olhar do outro. É no que concerne à forma
e o olhar do outro, que Bourriaud afirma que “a forma só assume sua consistência
(e adquire uma existência real) quando coloca em jogo interações humanas; a
forma de uma obra de arte nasce de uma negociação com o inteligível que nos
coube. Através dela o artista começa um diálogo.” 20 Os dispositivos de
publicação ou exibição permitem integrar estas colaborações de modo que
possam tornar-se visíveis para a coletividade que as origina.
O relato dos usuários é uma experiência e exercício da alteridade utilizado
como dispositivo durante o plantio da horta medicinal comunitária e como projeto
coletivo em arte. Este espaço fica caracterizado como lugar de reflexão e de
idéias acerca das experiências vividas. O relato é montado pelos usuários, que de
forma aleatória e alternada vão indicando roteiros de cura através do
conhecimento de ervas medicinais de plantas cultivadas na horta comunitária.
Este relato é construído e registrado através de experiências audiovisuais acerca
das opiniões pessoais e singulares de cada um sobre o processo vivido, sendo os
relatos realimentados um pelo outro. O ato colaborativo é aqui ampliado para o
texto e procedimento audiovisual como ferramenta viva no percurso de registro e
de reflexões quanto à produção do convívio e do encontro como projeto coletivo
em arte.
A realização de um projeto de arte coletiva a partir de relações de convívio
e de encontros abre um canal de expansão que torna possível uma horta
medicinal comunitária como projeto. Neste sentido, reafirma a condição da
experiência de vida e do espaço do convívio como condição presente para a
20 BOURRIAUD, Nicolas; Estética Relacional; 2009 (pág. 29)
produção de arte, assim como o potencial da arte para transformar o espaço
social e as relações humanas.
O processo coletivo de produção de uma horta coletiva promove um
espaço de convívio que desencadeia novas possibilidades de produção de
subjetividade e de intersubjetividades relacionadas, bem como o lançamento de
dispositivos colaborativos para acompanhamento destas ações através de relatos
e do blogger como interface tecnológica com a experiência. Como produto desta
experiência, acabamos por multiplicar o espaço do saber para as mediações entre
o projeto e seus entornos, de modo a ampliar a zona de interdiscernibilidade que
se estende em torno da arte, da vida e a horta medicinal comunitária como projeto
coletivo em arte.

Referências Bibliográficas
BOURRIAUD, Nicolas. Estética Relacional; tradução Denise Bottmann -. São
Paulo: Martins Fontes, 2009.
GUATTARI, Felix e ROLNIK, Suely. Micropolítica - Cartografias do desejo – 2 ed.
Rio de Janeiro: Editora Vozes,1986.
LADDAGA, Reinaldo; Estética de la emergência – 1 ed.; Buenos Aires: Adriana
Hidalgo Editora, 2006
ROLNIK, Suely. Alteridade a céu aberto - O laboratório poético-político de
Maurício Dias & Walter Riedweg In: Posiblemente hablemos de lo mismo,
catálogo da exposição da obra de Mauricio Dias e Walter Riedweg.
Barcelona: MacBa, Museu d’Art Contemporani de Barcelona, 2003.

30 DE OUTUBRO DE 2009


A GENTE SE AMA MUITO...
30 DE OUTUBRO DE 2009
FLORIPA, IGREJA NOSSA SRA. DA IMACULADA CONCEIÇÃO

Santo Antônio de Lisboa










Kikiki, Pelinho, Outubro e Astor






kikiki (Triksy) mãe da Pelinho (Pelinho de Inverno) e do Outubro (Zé Pretinho)...
Astor, novo cãozinho da casa...
Kikiki teve nova cria dia 17 de fevereiro...6 filhotes...

Verão 2010




































Verão 2010 !!!!!!!!!!!!!
Visitas no verão...Maria de Lourdes (mãe) , Sogrinha (Edith), Luan Appel, Guto Appel, Débora Soster, Janine Trevisan e Edson com as filhas Amanda, Manuela...Encontros no verão...Grace Luzzi, Daniel Mossmann, Jorge Fortuna, Dani e Rafael Wild, José, João, Graziela Schefer, Soninha, Jorge, Daniel Gomes e namorada, Mariza, filhas e Magrão (Renato Vilanova), Dani Harthmann, Liliane Pereira, Ana Luzi, Raquel e Jorge, João Haddad...